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Contos & Crônicas

Capítulo 4 - Arvinho II

"O sangue tinge os cabelos brancos, desce pelas vestes claras, sem tempo para perguntar mais nada."

05/04/2023 - 16:36 | Atualizado em 27/11/2023 - 11:00

 ARVINHO II

Afinal, o velho Tião Mocó estava bem. Continuava taciturno mas para o neto sempre tinha um agrado e para a nora um chumaço de flores. Viúvo, foi abrigado na casa de Arvinho, o mais velho dos filhos. Para ele, ensinou o jeito dos plantios, as horas certas das podas, das colheitas, como manejar o gado e o jeito das montarias. Deu-lhe também um pouco de escola e em casa falava das medidas em alqueires da terra e também das arrobas de boi, do peso de cada saca de cereal e dos metros quadrados de terrenos da cidade. Daí prá frente ficou fácil. Trabalhou na máquina beneficiadora de arroz do Seu Bento, depois na loja de ferragens do Seu Aranha e agora estava bem no matadouro municipal da cidade que tinha crescido, hoje quase 50 mil almas, com o consumo farto da carne ali lavrada. Sua vida estava bem acertada. A não ser pelas visões, malditas visões do dr. Valdecruz no lugar no boi.

Seguiu para seu segundo ano de emprego com direito até às férias que começava a gozar. Logo agora seu pai tem um desatino de causa não conhecida. Seu estado se agrava e é levado ao hospital público onde balbucia coisas desencontradas que acabam sendo decifradas por Arvinho como a repetição de um número: 2-9-1-6-2. Ele realmente nunca se esqueceu.

Fim de tarde no frigorífico e, agora, taciturno está Arvinho. Carrega no porta-malas do fusca um saco de estopa ainda engastaiado das sujeiras do Matadouro. Toma rumo diferente do habitual e vai para a estrada do Visó que passa por muita gleba boa até chegar na Forquilha da Lenha, a esquina onde ficava a venda do Boca-Larga. Mas antes disso Arvinho avista o portal vistoso feito de madeira de lei, com colunas abraçadas pelos tufos de jasmim, ladeados por palmeiras imperiais e as primaveras que sobem em busca do Sol e depois caem pelos beirais. Uma nesga de luz permite ver a placa lavrada na madeira “Fazenda Império”. O fusca, que avança em direção à sede, buzina. Sai um senhor com idade avançada que sem perder a altivez pergunta alto: “Quem é que chegou?”. Arvinho abre o porta-malas de onde retira a pesada marreta do algoz do matadouro e responde:

- Falo por parte de Tião Mocó. Ainda se lembra dele?

- Tião Mocó tá morto, lá no inferno, onde está bem cuidado.

- Tof, tof, tof... Ploft. 

"... Tof, tof, tof... Ploft. O sangue tinge os cabelos brancos do doutor..."

O sangue tinge os cabelos brancos do doutor, desce pelas vestes claras, sem tempo para perguntar mais nada.

Arvinho tira do bolso o terço com contas de lágrima de Nossa Senhora e, cabisbaixo, volta prá casa recitando “Santa-Helena-seja-minha-advogada-junto-ao-Nosso Senhor Jesus Cristo...”

Conheça no próximo capítulo "ALVINÊS", a irmã de ARVINHO (Capítulo 5) - Clique aqui para ler

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